Wednesday, September 09, 2009

Estava de cabeça baixa,rosto cansado pela vida, devia ter por volta de seus trinta anos. O ônibus sacudia, olho meio aberto e meio fechado.Ora acordado, ora dormindo. Falhava nas duas opções.

- Vamo bora, vai passando o dinheiro.
- Rápido, rápido cumpadi. Passa o relógio chefia.

Abriu seus olhos e ao ver aquele assalto, ali na sua frente, no seu ônibus. Decidiu. Iria morrer.
Durante sua vida sempre foi covarde, medroso, frustrado. Motivo de chacota entre seus poucos amiguinhos, lá longe no sertão. Seu pensamento foi longe, passou pela infância, adolescência e em poucos segundos já estava de volta ao assalto.

- Vamo bora, cumpadi passa o minigame

Tomado por uma coragem que jamais teve, uma ousadia que jamais ousou a ter: Levantou-se
E aos berros:

- Não dou, Atira ! Atira ! Atira.

Olhares dos passageiros desafiavam o bandido, ele não tinha escolha. Teria de atirar. Era seu assalto, sua reputação que estava em jogo.


- Pow !


Após o tiro tentou sair rapidamente, como todos os bandidos o fazem após um crime.


- Psiu


O bandido virou e sentiu-se surpreendido.Como continuaria a desafiá-lo?


- Só isso. Eu esperava mais da morte.


O bandido correu com olhos cheios de lágrimas até o passageiro, mas já era tarde. Estava morto.


- Eu matei um poeta.


E, todos choraram, estavam emocionados. Um poeta havia morrido.

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